sábado, 12 de setembro de 2015

[CRÔNICA] Uma valsa com a solidão

Por Guilherme César




Hoje volto a mergulhar em minha mente, me confrontando novamente com meu Oceano. Um oceano criado por mim, a melhor maneira que em meus devaneios consegui descrever minha mente, minha alma. Uma vastidão que por muito tempo achei ser de completo vazio, mas que ao longo do tempo, ao longo dos momentos de solidão, fui forçado a confrontar e entender sua real natureza. Logo, quando paro para refletir, para mergulhar dentro de mim, tudo o que vejo é este oceano, que inunda minha alma e guarda submerso em si minhas lembranças, meus tormentos, meus segredos.

Talvez, creio eu, que meu Oceano tenha surgido como a mais pura tentativa de preencher o vazio que todos nós carregamos. Suas águas são meus sentimentos, sobretudo o amor, que represei dentro de mim por tanto tempo, buscando de forma angustiante a reciprocidade que demorou a surgir.
Houve um tempo em que eu muito escrevia sobre a solidão, sobre o medo de estar fadado a ela, quando era obrigado a mergulhar no Oceano. Nos meus mais sombrios dias, era ela que me fazia companhia. Nesses dias frios, vazios de qualquer afeto, eu tentava arduamente afastar a solidão, a carência e a melancolia. Mas não há esforço capaz de nos livrar totalmente desse “anjo da ausência”.
Mesmo hoje, em que o meu Oceano finalmente encontrou uma Praia para ancorar, me vejo aqui, em meio à solidão. A solidão que tanto temi, agora enxergo-a como uma nostálgica companheira. Ela é capaz de me lembrar quem eu sou, quem eu quero ser e o que devo temer. Solidão, minha velha companheira que nos dias mais tristes me obriga a contigo dançar, levando-me as inevitáveis conclusões sobre o meu mundo, o meu verdadeiro eu.
O Anjo Renegado que me transformei, que nos momentos de alegria mascaro e escondo no Oceano, sempre estará aqui, sozinho. Esse Anjo Negro grita por atenção, quando eu em silencio me encontro rodeado de pessoas que meramente me notam. E até mesmo quando estou com aqueles que me dão carinho, lá está o anjo que se casou com a Solidão, inevitavelmente angustiado, sonhando com aquilo que no presente é inalcançável.
                A Solidão reflete em nossa valsa repleta de melancolia o que tanto tento esconder. A angustia de ter de esperar para viver com quem quero. O que antes era apenas um sonho, o de encontrar um lugar para pertencer, hoje é uma amarga privação. Afinal quando um anjo reencontra o caminho para o Paraíso, o que ele mais quer passa a ser galgar tais degraus. E eu, o anjo Negro, vivo hoje angustiado por amar demais quem vive longe de mim, angustiado por ter encontrado a entrada para o Paraíso e ser proibido de lá ficar, por agora.
                E em dias vazios e sombrios como este, minha companheira retorna de dentro do meu Oceano apenas para me lembrar que ela sempre estará aqui, até que eu possa finalmente retornar para o Paraíso Perdido que com muito custo encontrei. Retornar ao lugar que finalmente quis me ancorar, ao coração que eu tanto insisto em amar. Para perto do coração onde as águas do meu Oceano poderão inundar.
                E na melodia que embala esta valsa, lenta e melancólica, é entoada a espera junto da paciência. E com longos sorrisos entristecidos, minha companheira, a Solidão, me faz entender que aquilo o que mais queremos só poderemos ser nosso com sacrifício e enquanto isso, terei que me contentar com ela, a Solidão que está sempre a minha espera. Numa longa valsa que anseio um dia terminar.



Escrito ao som de “All I Need – Withim Temptation” 




Um comentário:

  1. Lindo, exatamente o que sinto. Inspirador. Parabéns, continue com essa profundidade.

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