Por Guilherme
César
Hoje volto a
mergulhar em minha mente, me confrontando novamente com meu Oceano. Um oceano
criado por mim, a melhor maneira que em meus devaneios consegui descrever minha
mente, minha alma. Uma vastidão que por muito tempo achei ser de completo
vazio, mas que ao longo do tempo, ao longo dos momentos de solidão, fui forçado
a confrontar e entender sua real natureza. Logo, quando paro para refletir,
para mergulhar dentro de mim, tudo o que vejo é este oceano, que inunda minha
alma e guarda submerso em si minhas lembranças, meus tormentos, meus segredos.
Talvez, creio
eu, que meu Oceano tenha surgido como a mais pura tentativa de preencher o vazio
que todos nós carregamos. Suas águas são meus sentimentos, sobretudo o amor,
que represei dentro de mim por tanto tempo, buscando de forma angustiante a
reciprocidade que demorou a surgir.
Houve um tempo em
que eu muito escrevia sobre a solidão, sobre o medo de estar fadado a ela,
quando era obrigado a mergulhar no Oceano. Nos meus mais sombrios dias, era ela
que me fazia companhia. Nesses dias frios, vazios de qualquer afeto, eu tentava
arduamente afastar a solidão, a carência e a melancolia. Mas não há esforço
capaz de nos livrar totalmente desse “anjo da ausência”.
Mesmo hoje, em
que o meu Oceano finalmente encontrou uma Praia para ancorar, me vejo aqui, em
meio à solidão. A solidão que tanto temi, agora enxergo-a como uma nostálgica companheira.
Ela é capaz de me lembrar quem eu sou, quem eu quero ser e o que devo temer.
Solidão, minha velha companheira que nos dias mais tristes me obriga a contigo
dançar, levando-me as inevitáveis conclusões sobre o meu mundo, o meu
verdadeiro eu.
O Anjo Renegado
que me transformei, que nos momentos de alegria mascaro e escondo no Oceano,
sempre estará aqui, sozinho. Esse Anjo Negro grita por atenção, quando eu em
silencio me encontro rodeado de pessoas que meramente me notam. E até mesmo
quando estou com aqueles que me dão carinho, lá está o anjo que se casou com a
Solidão, inevitavelmente angustiado, sonhando com aquilo que no presente é inalcançável.
A
Solidão reflete em nossa valsa repleta de melancolia o que tanto tento
esconder. A angustia de ter de esperar para viver com quem quero. O que antes
era apenas um sonho, o de encontrar um lugar para pertencer, hoje é uma amarga
privação. Afinal quando um anjo reencontra o caminho para o Paraíso, o que ele
mais quer passa a ser galgar tais degraus. E eu, o anjo Negro, vivo hoje angustiado
por amar demais quem vive longe de mim, angustiado por ter encontrado a entrada
para o Paraíso e ser proibido de lá ficar, por agora.
E
em dias vazios e sombrios como este, minha companheira retorna de dentro do meu
Oceano apenas para me lembrar que ela sempre estará aqui, até que eu possa
finalmente retornar para o Paraíso Perdido que com muito custo encontrei. Retornar ao lugar que finalmente quis me ancorar, ao coração que eu tanto insisto
em amar. Para perto do coração onde as águas do meu Oceano poderão inundar.
E
na melodia que embala esta valsa, lenta e melancólica, é entoada a espera junto
da paciência. E com longos sorrisos entristecidos, minha companheira, a
Solidão, me faz entender que aquilo o que mais queremos só poderemos ser nosso
com sacrifício e enquanto isso, terei que me contentar com ela, a Solidão que
está sempre a minha espera. Numa longa valsa que anseio um dia terminar.
Lindo, exatamente o que sinto. Inspirador. Parabéns, continue com essa profundidade.
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