Por Guilherme César
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ALERTA DE SPOILERS, OBVIAMENTE!
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Neste
último domingo (19/05) foi ao ar pela HBO o final de uma das séries mais
aclamadas da atualidade e que revolucionou o cenário televisivo mundial. Com um
total de oito temporadas, encerrou-se a história da guerra pelo Trono de Ferro
de uma forma um tanto quanto frustrante para os fãs. Embora faça parte da
grande maioria frustrada, devo confessar que em alguns pontos eu gostei do
encerramento e abaixo explicarei minha visão deste final de temporada e da “conclusão”
da batalha pelos sete reinos.
Primeiramente,
é necessário entender que Game of Thrones (e os livros também) sempre tiveram
como característica a capacidade de surpreender e frustrar nossas expectativas,
sempre mostrando algo oposto ao que esperávamos. Vide a morte de Ned, o
Casamento Vermelho, a luta da Víbora vs o Montanha. Todavia, em todos esses
momentos, o plot twist foi bem
construído, bem trabalhado e mesmo que o resultado seja um soco bem dado na
cara dos espectadores, tinha coerência. Se existe uma coisa bem feita em GoT é
a construção e desenvolvimento dos personagens. Isso agregado ao bom roteiro,
as ótimas atuações e diálogos, aos plot
twist e claro, a grande produção, cativaram os fãs ao longo do tempo. E
mesmo que existisse uma ponta de esperança que o final seria “bom”, todos
sabiam que naquele mundo as coisas não eram nada coloridas. Nenhum personagem
era 100% maligno ou 100% justo, tudo ali era cinza, personagens amados morriam,
nos decepcionavam, iam da lista dos mais odiados para os mais amados, isso é
GoT. E este argumento serve tanto para defender o final, quanto para justificar
a frustração dos fãs.
É
compreensível que o encerramento da história não seria um “final e novela das
20hs”, nem um “final Disney” como muitos dizem. Não se esperava um final feliz
e sim algo digno, que respeitasse os personagens, respeitasse toda a caminhada
até aqui e quem sabe (o coração de fã sempre guarda uma ponta de esperança) o
personagem favorito escapasse vivo. E é aí que vive a frustração.
Vamos
começar então pela parte ruim... Na minha opinião, a produção pecou justamente
no número de episódios. Diminuir tantos episódios comprometeu muito a trama e
foi uma opção dos roteiristas exclusivamente. Não foi corte de verba ou
remanejamento, para que as grandes cenas fossem melhor trabalhadas. Foi apenas
uma escolha e é nas escolhas que a série pecou. Com mais tempo as tramas seriam
melhores trabalhadas e a coerência se manteria. Mesmo que o desfecho fosse o
mesmo, como de costume, o desenrolar “bem contado” nos faria aceitar. Sendo que
este desenvolvimento de personagem negligenciado nos últimos episódios é apenas
um dos motivos que causaram tanta frustração.
Outro
ponto negativo que merece destaque foi o fato de que vários arcos foram
simplesmente ignorados e cortados. Diversas teorias nem sequer fizeram
diferença, o que trouxe ao público a mesma sensação tida em Lost. Os fãs criaram inúmeras teorias e
a frustração não veio delas não se confirmarem, mas de que –para os
roteiristas- elas nunca nem tiveram importância. Perguntas permaneceram,
informações foram descartadas. A revelação sobre a origem de Jon serviu apenas
para uma pequena intriga? A profecia do Azor Ahai não serviu de nada? Jon voltou dos mortos para aquilo? O Corvo
de Três Olhos era bom o ruim? Bran manipulou todos? E a profecia de Cersei foi
ignorada ou interpretada erroneamente? Uma das coisas que movia a audiência eram
as teorias, a especulação. E assim como em Lost
tudo foi jogado para o alto e era óbvio que não agradaria aos fãs.
Na
tentativa de lidar com o desagrado, este episódio fez algo que para mim foi um
erro, tratou os fãs como pessoas burras. Ok, quando a emoção fala mais alto
todos perdem a racionalidade, mas tratar os fãs que acompanharam por tanto
tempo e destrincharam a série de uma forma tão insensível foi desanimador. E
isto deve-se ao fato dos diversos diálogos expositivos. Toda a briga que rolou
entre as pessoas frustradas com as atitudes da Daenerys, onde muitos a defendiam
enquanto outros a julgavam foi feita no dialogo entre Tyrion e Jon. O que
serviu como justificativa para as escolhas de todos os personagens.
Dito tudo isso, farei baixo uma análise do
encerramento de cada personagem que acredito merecer destaque, com o que gostei
e não gostei.
Daenerys:
É
compreensível todo o arco dela e sua transformação em uma tirana, porém foi
tudo feito de forma muito apressada. Mesmo que eu discorde da necessidade de um
dialogo expositivo, concordo com as falas de Tyrion. Dany sempre queimou seus
inimigos, foi impiedosa contra os “homens maus” e todos vibravam com isso. A
personagem viveu uma vida de sofrimento e ganhou poder, o que ela fez com esse
poder foi coerente com todas as falas dela e não acredito (hoje) em sua
loucura. O massacre de Porto Real foi consequência da dor, afinal ela perdeu
muito até chegar ali (como explicado por Jon) e mesmo não agindo da forma “justa”,
naquele momento ela era uma pessoa em sofrimento que possuía uma arma de
destruição em massa. Vilanesco? Sim. Coerente? Sim. Como dito anteriormente,
GoT sempre nos apresentou personagens cinzas, que tinham dentro deles os dois
lados, porém, a reclamação aqui é que foi tudo desenvolvimento as pressas na
última temporada. O que fez com que muitos vissem a Dany como uma louca e essa
loucura forçada. Não foi, mas pela falta de desenvolvimento na oitava temporada
acabou sendo.
Gostei
do encerramento da personagem, embora a forma com que aconteceu merecesse mais
carinho. Ela tem uma legião de fãs e merecia um final mais digno e bem
trabalhado.
Jon:
O
típico herói que se sacrifica pelo bem maior. Clichê e frustrante, mas
coerente. Snow nunca quis o trono, nunca quis liderar, ele queria apenas se
encontrar. Fiquei satisfeito com o reencontro dele com o Fantasma (uma metáfora
para ele se reencontrando). Todavia, me revolta o fato dele sempre ter aquela
cara de bosta e nunca dizer o que realmente quer. Jon fez tudo pelos outros e
só. Ele serviu para nos mostrar que ser justo e honrado é uma merda. Embora
coerente o final, foi bem revoltante. O bastardo se ferrou e serviu como bode expiatório.
Não foi o Azor Ahai, não foi o Rei dos Reis, no máximo será o novo Rei Pra lá
das Muralhas. Fiquei com pena. Mostrou que ser herói não lhe garante
recompensas e que a maior recompensa é estar vivo.
Sansa e Arya:
Gostei
do final de ambas, só mostrou os crescimentos das garotas Stark. Esse foi o
ponto que a série valeu a pena. Eu detestava a Sansa e no fim ela foi a
personagem mais bem trabalhada da série. Embora ter sido usada para dizer que “o
sofrimento e os abusos nos tornam mais fortes” o que é um discurso merda, achei
seu final digno.
Sobre
a Arya, eu só queria que fosse ela a matar a Cersei, que ela tivesse sua
conclusão e mostrasse que mesmo tendo seguido o caminho da vingança, ela
amadureceu. Desistir da vingança no fim foi forçado. Mas, ok...
Detestei.
Vilão? Manipulou todo mundo? Mereceu? Bran foi o grande ponto de interrogação
da temporada assim como o Rei da Noite.
Queria
que a Batalha de Winterfel tivesse culminado em uma luta épica entre o Jon e o
Rei da Noite, queria algo melhor trabalhado. Se fosse a Arya a finalizar,
beleza, mas merecia mais. Foi apressado e “broxante”.
Tyrion:
Um
fim merecido, embora “ok”. Preferia que ele reinasse (embora seja isso que
fará). E aquele conselho foi bem “tanto faz”. Melhor seria se tivessem
libertado os sete reinos e “cada um por si”.
Drogon:
Carregou
o episodio nas costas. Foi essencial e mostrou ao derreter o trono que viu que
aquele era o verdadeiro causador da morte de sua mãe. A ambição a destruiu. Só
faltou ele por fogo no Jon, seria épico.
Jaime e Cersei:
Minha
maior revolta se refere ao Jaime, acho que me sinto enganado, pois achei que
ele tinha deixado a Cersei de lado e voltaria para mata-la. Mas ele
exemplificou bem o tema “relacionamento abusivo”, onde a pessoa se vê presa,
mesmo tentando escapar. Por mais que eu deteste o fato dele ter voltado para
salvar a Cersei, vendo pelo ponto de que ele estava preso nisso me faz engolir.
Já
a Rainha Má teve um fim ridículo, que de certa forma é irônico. Morreu como uma
qualquer e isso é impactante. Mas seria mais se fosse como uma espada no peito.
No
mais, talvez não exista um final que possa agradar aos fãs, pois muita expectativa
foi criada. O impacto de GoT foi grande demais na vida das pessoas, o que fez
com que todos esperassem mais. Acredito que se melhor trabalhado, este mesmo
final seria aceitável e ainda, se a série mantivesse o nível de roteiro das
temporadas anteriores, com toda a certeza agradaria. O final poderia ser
chocante? Sim. Frustrante? Sim. Mas ao modo GoT de ser. A série, a temporada e
o episódio tem seus méritos. Sempre terá. Os atores merecem palmas e a produção
também, apenas os roteiristas que merecem as vaias. Que os livros entreguem
algo melhor trabalhado, que respeite os fãs, principalmente respeite a inteligência
dos fãs. Infelizmente a série escolheu o caminho mais fácil, coerente em muitos
pontos, mas o mais fácil. O ponto final dos personagens poderia ser o mesmo,
mas o caminho poderia ser diferente.
E em uma última ressalva, destaco que gostei da ascensão dos Stark, pois torci por eles. Pelo menos isso o final entregou. Furos e exageros de roteiro deixo para outros discutirem, tem muita coisa ruim que não citei, mas no geral GoT deixará saudade.
NOTAS:
Episódio 8x06 - 6/10
Oitava temporada – 6/10
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