sábado, 18 de junho de 2016

[Crônica] Das crises existenciais as quais me defino

Por Guilherme César




Um dia ensolarado subitamente perde seu brilho, o calor desaparece e a chuva chega. Digamos que seja assim que me sinto às vezes, como hoje. Uma súbita mudança climática que ocorre apenas dentro de mim, uma sensação de confusão que me exige refletir, me questionar, às vezes intensa, outras leve, mas sempre repletas de consequências que atingem não só a mim, mas todos à minha volta.

Hoje decidi escrever por causa de uma dessas crises existenciais, que insistentemente me faz querer me afastar de tudo e de todos e que, consequentemente, me faz afastar para bem longe quem eu mais gosto. Confuso demais para explicar, intenso demais para querer sentir.
Tem momentos que simplesmente queremos ir para longe, nos afundar em um canto e ficar ali, apenas sozinho, apenas esperando a “tempestade” passar. Refiro-me a nós, pois sei que não estou sozinho nisso, sei que mais pessoas do que conheço sofrem dessa mesma síndrome de solidão. Confesso que no começo achava que eu tinha depressão, ou algo semelhante, sinceramente não me importo mais. Antes, o vazio dentro de mim me impulsionava a escrever e para quem conhece meus poemas e textos desde o meu inicio como escritor, sabe do que digo. Naquelas linhas eu descarregava todas as minhas frustrações, toda a minha tristeza, buscando me entender, buscando tirar de mim toda aquela confusão. E sempre deu certo.
Acontece que muitas vezes uma decepção causa essa súbita vontade de se isolar, outras vezes ela vem por causa de algo que vi e que me tocou de uma forma que me obrigou a parar, respirar e pensar naquilo. Em outros casos é algo que sofri, algo que me machucou demais. Aquela sensação de vazio, de estar perdido, de não fazer parte do mundo, de ser mais um rosto perdido na multidão, sem história, sem vida, sem cor.
Tudo começou lá na adolescência, depois de sofrer muito por amor, de ser hostilizado na escola e do mundo parecer me repelir. Isso deu início ao buraco em meu peito, ao vazio que se instaurou e ali ficou, até que algo me preenchesse novamente. E sim, hoje eu amadureci, hoje eu me sinto deveras feliz e livre desse vazio, mas por que então as crises voltaram?
Agora elas vêm de outra forma, em alguns momentos quero ficar sozinho somente para colocar minha cabeça no lugar. Ciúmes, mágoa, raiva, são alguns dos fatores que trazem à tona toda essa vontade de me isolar.  A insatisfação com algo, a revolta com problemas que por vezes parecem sem solução. A saudade, essa um fator que me mata aos poucos, intensamente me levando a pensar em formas de fazê-la diminuir.
Num instante tudo muda de cor, tudo perde a cor. E dentro da crise eu acabo por magoar quem amo, o típico “mau humor”, a falta de interesse, a vontade de jogar tudo para o alto. Isso machuca quem não quero machucar, quem eu só quero proteger. E nesses momentos eu paro para pensar “o que diabos estou fazendo?”. Qual o sentido disso? Ciúmes? Saudades? Talvez o medo de perder? Talvez aquela inveja de quem esteja onde eu não posso estar... Não sei. São tantas coisas, tantos sentimentos embolados, emaranhados, que fica difícil saber como começou, onde foi o erro, o que de fato me incomodou.
Confuso? Sim, eu sei que é. Já me chamaram de louco, muitos acham que preciso me tratar. Tem gente que me acha depressivo às vezes, mas sou feliz a minha maneira. Tenho muitos amigos, uma família que me ama, uma namorada incrível e amorosa. Um futuro traçado, objetivos, sonhos, razões para seguir em frente. Então, nesse momento você que está lendo se pergunta “Se tem isso tudo, para que fica assim, em crise?”. Não sei bem a resposta, mas posso me dar ao luxo de te confundir mais ao responder?
            Muitas vezes algo acontece e te incomoda, você reage àquilo de forma automática, para se proteger. Instinto de sobrevivência, somos movidos por isso. Em certas situações, quando pensamos que vamos sofrer, acabamos reagindo de forma exagerada, instintivamente. Autopreservação, mesmo que você seja autodestrutivo. E nisso, saem palavras que machucam, ações que contradizem os seus sentimentos. De fora você parece um louco sem sentido, parece que está sendo babaca, sendo infantil. Talvez esteja, mas é só você, dominado por seu instinto de se preservar, ou preservar algo que não quer perder. E posso ir mais longe ao dizer que seja isso o que se define por ciúmes, o medo de perder. Daí você machuca quem você não quer perder, daí você confunde quem você ama, quando nem você sabe explicar o que está sentindo.
            E o que isso tem a ver com a crise existencial? Essas atitudes, essas ações por instinto, me levam ao estado de questionamento, ao estado no qual eu me acho louco. Você entra em conflito com você mesmo. Se questiona, se arrepende e do arrependimento vem a tristeza. E enquanto isso ocorre, numa explosão de pensamentos, você percebe que fez merda e tenta se afastar, tenta se recuperar e aí vem a crise existencial.
            Em resumo, você se afasta para desligar tudo e ligar de novo, na esperança de que os erros sejam apagados e que tudo volte ao normal. Mas não volta. O vazio, a tristeza, a depressão, causam danos, deixam marcas. E para curá-las você precisa de tempo, precisa retribuir com amor e acreditar que o seu amor vai curar as feridas que você mesmo causou. Tudo por ser infantil, tudo por querer estar perto de quem está longe e aparenta estar feliz em sua rotina, mesmo longe de você.
            Então, onde posso chegar com tudo isso que eu disse? Que certas emoções nos levam a agir de forma que nem nós mesmos gostamos, isso provoca o arrependimento que trás à tona a vontade de se isolar. Medo, raiva, ciúmes, insegurança, baixa autoestima, não é a toa que chamamos isso de lado negro. O lado negro que todos temos e que em mim, me faz querer ficar sozinho, justamente para minimizar danos. Manter uma distância segura, para não causar mais merda. No fundo, apenas um atestado de revolta com as próprias atitudes, um carimbo de “eu assumo: estou errado”.
            Concluindo então, finalmente, nesse texto que creio eu que não fará sentido para ninguém, existem momentos em que devemos nos isolar sim, para evitar machucar quem amamos. Quando a confusão de sentimentos é tamanha, que nem em linhas ela se explica. Isso é a crise existencial que sempre retorna, pois dentro de nós somos vazios e estamos constantemente nos preenchendo de sentimentos. Finalmente entendi isso, depois de anos. Contudo, esse vazio às vezes transborda de sentimentos negativos e nesse momento precisamos nos isolar, antes que isso respingue em quem amamos. Daí na solidão nos livramos do que é ruim, para voltar a rotina e torcer para ainda ter alguém querendo nos ajudar a preencher aquele vazio com algo bom.

            A crise existencial vem na tentativa de se entender, no medo de ter estragado tudo. E em cada um ela pode se explicar de forma diferente. Então não se assuste se alguém quiser ficar sozinho, se a pessoa tiver dificuldades de lhe explicar como está se sentindo, apenas lhe dê tempo para pensar, para se entender, antes que ela exploda. Crise existencial não nos mata, talvez nos fortaleça, só é preciso tempo. E se isso evoluir para uma depressão sem fim, para a vontade de desistir, aí sim, você precisará de ajuda. 



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