quarta-feira, 23 de julho de 2014

[Crônica] O nosso bullying de cada dia

Por Guilherme César




            De uns anos para cá, a palavra bullying tem sido muito usada no cotidiano das pessoas. Bullying é um termo inglês usado para definir atos de violência, - física ou psicológica – e que passou a ser bastante usado pela mídia para definir certas atitudes referentes ao comportamento de jovens estudantes. Hoje é considerado uma doença, onde tanto o praticante, quanto o oprimido, são considerados vitimas.
Uma doença que atinge diretamente o psicológico das crianças, em geral, provocando marcas para toda a vida. Mas não estou aqui para fazer uma análise psicológica de quem sofre ou de quem pratica esse tipo de assédio, como dizem. Quero apenas refletir – e quem sabe fazer você que está lendo refletir – sobre o bullying.
            Ouço muitas pessoas dizerem “ei, todo mundo já sofreu bullying”, ou “evitar o bullying vai criar uma geração de coxinhas”. Geração de coxinhas, um termo bem engraçado - por sinal eu adoro coxinha - que se refere a geração atual, onde as crianças não podem apanhar dos pais, o merthiolate não arde e se você faz piadas com seu coleguinha na sala de aula você está cometendo um crime. Por mais engraçado que possa parecer, é um tanto quanto exagerada essa colocação? Até onde isso está certo? As crianças devem sofrer, passar por momentos onde são intimidadas e confrontadas, para no futuro se tornarem pessoas corretas e fortes? E poupar seus filhos de sofrerem com isso faz de você errado por querer protegê-lo? De fato, se a criança não souber se defender ela vai crescer como uma coxinha, que ninguém pode falar um “vai tomar no cu” que ela já chora?
No cenário atual temos de um lado, pessoas que são contra qualquer tipo de ato como as antigas chineladas dadas pelos pais, ou os apelidos que as crianças colocam uma nas outras e, do outro, aqueles que acham que os adultos não devem interferir nisso, que criança deve apanhar sim, para “virar gente” e que os apelidos fazem parte do nosso crescimento. Mas então, de qual lado você está? E qual o lado certo?
Ao meu ver, nem um, nem outro. Primeiro: acho ridículo as pessoas falarem “todo mundo já sofreu bullying”, como se diminuíssem o impacto disso na vida de quem sofreu. Sim, todo mundo já ganhou um apelido –dentuço, gorda, magrelo, choquito, cabelo Bombril, mas espera aí, você superou a “zoação” e agora acha que os outros não podem nem ressaltar isso? Cara, eu já sofri bullying - e como sofri. Cheguei ao ponto de surtar, de entrar em depressão e até de ter síndrome do pânico, quando não era perseguido pelos coleguinhas de sala, era pelos professores que insistiam em me julgar. E você deve se perguntar se eu reagia? Eu tentava, e não, não contava para os meus pais. O bullying é isso, A maior parte daqueles que sofrem não contam para ninguém. Então se alguém já é maduro o suficiente para comentar isso, não use esse argumento de que todos passaram pelo mesmo, para tentar a pessoa se sentir melhor, pois não adianta.
Outro ponto, acredito que todo pai nunca vai querer que seu filho passe por humilhações, mesmo que essas ajudem-no a crescer como pessoa. Quem aí disse que só através da dor que se evolui? (Tá, conheço alguns que disseram isso) Mas não acredito que devemos deixar as humilhações nem nada do tipo livres, para que as crianças se tornem fortes. Todos temos nossa fragilidade, todos temos nossas fraquezas. Devemos ensinar nossos filhos a superá-las, e não deixar que eles resolvam sozinhos. Ser pai, é proteger sim, mas também orientar. Essa idiotice de apelidos tem que parar, ou então teremos uma geração de crianças presa nos terapeutas – o que está acontecendo com os jovens de hoje – por terem sido rotuladas com diversos apelidos. E quem diz que esses que vão ao psicólogo só estão lá porque não souberam lidar com os seus problemas está enganado. Para todos existem certos momentos em que o peso do mundo parece cair sobre os ombros. Não é sinal de fraqueza recorrer a um terapeuta.
Por fim, creio que vivemos em uma sociedade de exagerados, de pessoas que são ou 8 ou 80. Nunca temos um meio termo. Hoje eu sou o que sou por ter sobrevivido ao bullying, as criticas, as “zoações”, mas ainda assim me peguei refletindo mais cedo sobre como seria a minha vida se na época em que sofri tais humilhações, eu tivesse a mentalidade que tenho hoje. Talvez eu tivesse lutado mais contra os opressores, dado uns tapas na cara deles, mesmo que eles fossem do dobro do meu tamanho, ou até mesmo recorrido aos meus pais para que estes fossem na escola colocar os professores em seus devidos lugares. Contudo, eu não sei se seria esse mesmo eu, que sofreu muito, mas que agora consegue lidar com certos problemas – e ainda sofre com alguns traumas- e ainda assim não quero que a minha filha ou a minha irmã venham a passar pelo mesmo.
Acredito que as crianças de hoje podem aprender a se tornar adultos fortes com a ajuda de seus pais, com a proteção dos mesmos. Basta existir um meio termo, um equilíbrio. E concordo com o fato do bullying ter se tornado algo comentado, é errado deixar que esse mal se alastre. Mas no fim, não seria o bullying só mais um rótulo criado pela mídia, para estereotipar uma geração? Deixo essa pergunta com você, pois para mim, independente do teor do rótulo, estes nunca deveriam existir.


Um comentário:

  1. Pais e educadores tem papel importante nesta luta, tanto no sentido de orientar quanto repreender, vitimas e algozes. Nenhuma forma de violência pode ser aceita.

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