Por Guilherme César
Quantas vezes você, homem, sentiu que a tristeza lhe deixava frágil e que isso faria que zombarem de ti? O quão difícil é para você expor aquilo que sente? Despir-se das armaduras numa sociedade hiperconectada, em que cada suspiro seu é registrado e que a única coisa que realmente parece importar (mesmo que seja a única que não importe de fato) é a sua imagem?
Hoje, logo cedo, me deparei com uma imagem composta por diversos homens famosos, da música e do cinema, que já faleceram. Todos da mesma causa, suicídio. A foto tinha como legenda algo como “o impulso masculino de tentar suportar tudo sozinho”, ou algo próximo disso. O conjunto, frase e imagem, me fez refletir e passei algumas horas com o tema martelando em minha mente. E é inegável, nós, homens, somos impulsionados a negligenciar a nossa saúde mental, inviabilizados de sentir nossa tristeza, em prol de uma imagem máscula. Como se, de certo modo, sentir, sofrer e chorar, fosse o oposto do que se define como ser homem.
Indo mais além, recentemente, em um debate com um grande amigo, ele me falou sobre como a ansiedade do homem e a sua saúde mental podem interferir no relacionamento. Que expor isso para sua parceira, expor o caos em sua mente, não dará a ela a segurança necessária, pois “a mulher precisa se sentir segura junto do homem e não é certo que a esposa veja certos problemas”. Logo, em síntese, o marido não pode demonstrar suas fraquezas para sua esposa, visto que isso mostrará que ele não é tão forte quanto deveria ser e em decorrência disso, não passará a devida segurança para a parceira. Você pode até fazer terapia, mas não conte isso para a sua esposa. Na mesma linha de racicionio, ouvi outro dia o comentário de que homem não faz terapia, que isso é “coisa de viado”.
Tudo isso se juntou em uma sopa de péssimos conceitos dentro da minha mente, que veio maturando nos últimos dias e a imagem citada acima foi o tempero final, para o prato ser levado à mesa. Ao meu ver (e aqui não busco dizer o que é certo ou errado, mas apenas apresentar meu ponto de vista), a sociedade prega que a masculinidade está numa direção totalmente oposta das emoções, insistentemente definindo o homem que demonstra seus sentimentos como inferior. Aos homens, se restringem a raiva, o impulso sexual, a brutalidade, a virilidade. Qualquer emoção ou fragilidade está atrelada à imagem da mulher e deve ser evitada. E ainda, você pode até sofrer, chorar, ficar triste, mas jamais deve deixar com que os outros saibam, pois irão te julgar, seja por tolo, seja por ser “menos homem”, seja por ser “emocionado”.
Que sociedade é essa que nos impede de algo tão normal quanto sentir? E como isso nos afeta, de fato? A postagem que serviu de gatilho mostrava exatamente isso, grandes estrelas que se apagaram por causa da depressão, por não conseguirem lidar com todo o caos dentro de si e negligenciaram a dor, em detrimento do que lhes era imposto. Não só para os homens, mas para TUDO na vida, existem regras. A sociedade determina como devemos agir, como devemos amar, como devemos nos vestir, o que devemos gostar, do que vamos falar, quando devemos falar. Independente do gênero, da classe, da raça, da idade. E isso é bizarro. Tão bizarro, que faz com que muitos se matem ao não poder falar sobre, ao não poder se expor. Muitos são engolidos por tudo aquilo que sentem, simplesmente por não conseguir dar a devida vazão. Já que até mesmo na forma com que você lida com as suas emoções, é necessário seguir um padrão ACEITÁVEL imposto pelos outros.
E eu, que adoro entender a mente humana, o comportamento, os gatilhos que nos fazem agir, fico em pânico ao ver tantas travas, tantas leis, tantos limites. Principalmente em relação a algo tão intenso quanto as emoções. Aquilo que não damos vazão, nos afoga. Os sentimentos estão ali para serem sentidos, os bons e os ruins. A tristeza só passa se a gente realmente a sente, até a última gota. E a forma com que você a sente, se é se expondo ou não, não interessa. Contudo, se as ondas são grandes demais, nada lhe impede de pedir ajuda, buscar socorro. A terapia é importante, o autoconhecimento é essencial. Você não é menos homem por ter falhas, fraquezas, medos. E nem muito menos por buscar ajuda para entender como superar cada um deles. A sociedade não tem o poder de definir quem somos e nós não devemos dar essa autoridade a ela.
Não consigo, de forma alguma tolerar que não somos livres para simplesmente sentir. Que não podemos nem sentir a nossa própria dor. Que o “correto” é escondê-la debaixo do tapete ou senti-la em silêncio, para que ninguém saiba. Que relacionamento saudável é esse em que não se divide as dores, somente as alegrias? Para mim, forte é aquele que não teme expor as suas fraquezas, não teme sentir as suas emoções. Não aquele que esconde tudo por uma falsa sensação de segurança. Afinal, cada emoção reprimida, inevitavelmente, se tornará uma rachadura em sua mente e com o tempo, não há estruturas que suportem.
Se permita sentir, se permita sofrer, da forma com que quiser. Liberte-se das amarras, só você sabe como lidar com a sua dor. Não tenha vergonha, não tenha medo do que dirão. E se a dor for grande demais, procure ajuda. A terapia não é apenas para momentos em que tudo está insuportável, ela é uma forma de entender como tornar tudo mais calmo. E assim, podermos mergulhar em nós mesmos, sem medo de nos afogar.
É um ato de coragem expor suas fraquezas na sociedade em que vivemos hoje.
ResponderExcluirCom toda a certeza
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