Por Guilherme César
Outra vez
estou aqui, escrevendo um texto sobre algo redundante, algo que nota-se em meus
versos, nos meus vários poemas. Um pouco de solidão, uma pitada de tristeza,
boas doses de baixa autoestima temperada com a velha depressão guardada no
fundo do armário. Nas noites frias, o monstro surge no canto escuro do nosso
coração, devorando as entranhas de quem, como eu, sofre do mesmo mal, o de
sentir demais.
Depois de uma
noite reflexiva, acabei por decidir escrever, despejar em linhas o que me
sufoca, como faço sempre. É uma terapia, uma forma de externalizar os
problemas, as neuroses. Não que seja uma cura milagrosa, mas escrever se tornou
um breve alívio. Constantemente reflito sobre mim, mergulho na minha própria
mente buscando me entender, buscando um sentido para o que eu sinto, para as
minhas atitudes. A autoanálise é útil, mas dolorosa, nos ajuda a compreender a
profundidade dos nossos dramas, mas acaba nos mostrando muito que talvez não
estejamos prontos para ver.
Então, qual o demônio
da vez? O que despertou minha crise existencial atual e motivou esse texto? Um
velho hábito que percebi ser um veneno mascarado que queima minha pele, a tendência
de querer agradar todos ao meu redor, o que me coloca sempre em segundo plano.
Vivo numa
busca desenfreada para fazer felizes todos que amo. Quero ser o bom amigo, o
filho perfeito, o namorado ideal. Quero ser o cunhado maneiro, o genro impecável,
o neto querido. Busco agradar, busco ser o melhor, muitas vezes o melhor para
os outros e não para mim. Essa cruzada tem me destruído por dentro, tem gerado
infindáveis crises de ansiedade, surtos de pânico, horas de choro compulsivo. Sinto-me
fraco, cansado, desmotivado. Sinto-me um lixo, me sinto um fracassado.
Parte disso
talvez venha das cobranças, intencionais e muitas vezes implícitas. Parte disso
talvez venha da falta de empatia, da falta de sensibilidade. Muitas vezes as
pessoas a nossa volta estão tão absortas em seus problemas, tão desesperadas em
suas vidas, que descarregam toda a sua amargura e frustrações no outro. E nem
sempre o outro está em um bom dia.
Vivo em uma
espiral autodestrutiva em que me obrigo a salvar todos, me preocupo com todos.
Não se engane, não sou um bom samaritano que quer salvar o mundo, quando digo
todos, me refiro às pessoas próximas de mim. Sofro por vê-los infelizes, sofro
por não ter como ajudar. E nisso, de puxar para mim o problema dos outros, eu
vou sucumbindo, afundando, me cobrando às vezes o que não preciso ser, o que
não tenho condições.
Minhas metas
me asfixiam, meus objetivos me esmagam como uma montanha. “Eu preciso alcançar
minha independência”, “Eu preciso ser assim...”, “eu preciso ter dinheiro para
aquilo...” e muitas vezes esqueço que preciso estar vivo para isso, que preciso
estar bem. Muitas vezes nem sei o que realmente me faz feliz, o que realmente
eu quero PARA MIM, apenas para mim.
E nisso,
quando fracasso, sou julgado, oprimido. Quando erro, sou hostilizado,
incriminado. Mas ninguém nota que sou humano. Acostumei todos com a visão de
que sou “perfeito” e de que resolvo tudo, que ninguém enxerga que estou
desgastado demais, que sou humano e que minha mente não é mais a mesma. Sofro
por me esforçar demais, sofro por buscar a felicidade dos outros, pensando que
também será a minha. Eu quero agradar, eu quero ajudar. Quero ser alguém, quero
conquistar meus sonhos, quero proporcionar sonhos. Quero fazer felizes todos a
minha volta, quero acima de tudo ser respeitado. Mas para isso preciso gostar de
mim também, preciso me amar, e não consigo. Não consigo gostar de alguém que só
fracassa, que só erra. Mas errar não é humano? E eu, não sou humano?
Veja então
onde essa reflexão me leva. Quero agradar, busco ideais utópicos, me perco na
confusão de sentimentos em meu peito e no fim termino triste, ansioso, me
odiando. Sou culpado, sempre somos nós os maiores culpados. Pois a luta diária é
com o monstro que vive dentro de mim, o monstro que todos insistem em
alimentar. Talvez esse monstro morresse de fome se os outros fossem gentis, se
a pressão fosse menor. Talvez, muitos “talvez”.
Onde iremos
chegar nos matando para sermos algo que nem sempre precisamos ser? Onde iremos
chegar perseguindo ilusões? Eu só quero ser feliz ao lado de quem eu amo, eu só
quero ser respeitado. Ser visto como um homem honrado, ser visto pelas minhas
qualidades e não pelos meus defeitos. Como conseguimos isso?
E você, também
tem lutado contra um monstro assim? E você, tem alimentado os monstros de
alguém? Sejamos gentis, é o mínimo.
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